sábado, 15 de agosto de 2020

Gaula – Rota de Tradições

 

O trigo é tão antigo como a História do arquipélago, é um património que nos conta detalhadamente a faina deste cereal que fazia parte do dia a dia das famílias, desde a sementeira do grão, até a amassadura do pão e nesta matéria, a freguesia de Gaula é portadora de uma história inigualável.

Gaula é terra de tradições e é nas tradições que reside a forma mais genuína de um povo. Há muito tempo atrás, debulhava-se o trigo pelos poios a perder de vista, aproveitando a força motriz da água, muito abundante nesta freguesia, e que o diga todo o património ligado a este bem-essencial, os moinhos, os lavadouros de levada e os fontenários espalhados um pouco por toda a freguesia.

A verdade, é que com o passar do tempo, as grandes produções de trigo foram diminuindo, não só pela menor produtividade que se foi verificando nos terrenos, mas também pela preferência dos agricultores por outras culturas mais lucrativas, no entanto, os gauleses resistiram ao virar dos tempos e juntaram-se, ainda que numa pequena produção, para manter viva a essência desta arte que é a cultura do trigo e a sua posterior debulha.

No sitio da Achadinha, na Achada de Gaula, numa solarenga manhã de sábado, juntam-se os produtores à volta da debulhadora, entre a labuta, os risos, as cantorias e aquele jaqué, o barulho inconfundível da máquina atrai os mais curiosos. Carros carregados de trigo, dos produtores locais, vão chegando e descarregando, os mais novos ajudam como podem e fica a certeza e a esperança que a tradição terá a sua continuidade. Dá-se assim uma reconstrução histórica, vivida intensamente por todos e com a colaboração da associação TRAGA (Associação de Folclore Tradições de Gaula).

A Junta de Freguesia de Gaula sempre apoiou as tradições e a cultura tradicional de trigo não ficou esquecida, nesse sentido, criou-se um apoio financeiro para estes produtores locais, na medida das possibilidades orçamentais da autarquia, num gesto claro de incentivo a esta atividade centenária.

Juntos fazemos a diferença, marcamos o compasso do tempo, mantemos viva a essência que nos liga à terra, até para o mês que vem!

 

domingo, 3 de maio de 2020

(A)Normalidades


Um vírus ainda tão desconhecido paralisou as maiores economias do mundo, fez tombar países musculados e trouxe à tona uma série de fragilidades económicas e sociais, mas uma coisa é certa, foi também capaz de gerar uma onda de solidariedade mundial, mudar a forma como encaramos o que nos rodeia e colocar à prova a resistência dos povos, mas será que o pior já passou?

No próximo dia 4 de maio a Madeira irá retomar a atividade económica, mas as pessoas precisam de entender que isso não significa que iremos voltar à vida que tínhamos antes da Covid-19, esta será sempre uma retoma à normalidade, anormal, e precisamos manter todo o cuidado.

O vírus não está erradicado e por isso impera a necessidade de manter uma postura defensiva, porque ao cuidarmos de nós, estamos automaticamente, a cuidar de todos os outros. O uso da máscara deverá ser a rotina a adotar em qualquer deslocação fora da nossa residência e continuar a respeitar as regras impostas, é a única arma que temos para combater o tão temido monstro que se instalou nas nossas vidas.

Segundo dados do Expresso, Portugal teve 25.190 pessoas infetadas com o novo Covid
-19 das quais sucumbiram 1.023, comparando com alguns países, como a Espanha e a Itália, podemos respirar de alívio, mas nunca baixar a guarda, porque o pós-Covid-19 será tanto ou mais difícil que todo este percurso que trilhamos juntos.

A Madeira está há oito dias sem registar casos positivos e é a única região do país que, felizmente, não regista nenhuma morte pelo vírus, um verdadeiro orgulho, o claro sinal que as medidas impostas e cumpridas à risca pela larga maioria dos cidadãos, fizeram-nos capazes de vencer na maior adversidade.

O caminho da normalidade é longo, deveras incerto, mas fica a certeza de um abraço caloroso que, ainda que na distância, nos acalenta o sonho que ficará tudo bem e que voltaremos a abraçar os nossos amores.
  


terça-feira, 21 de abril de 2020

Gaula, Terra de Fontanários



Gaula é a única freguesia da Madeira com dezena e meia de fontanários classificados que contam a história de outros tempos, quando as redes de água potável ainda não eram uma realidade, eram estes fontanários que abasteciam as moradias gaulesas. Emblemáticos e irreverentes, que não vergam à passagem dos anos, os fontanários de Gaula constituem um património a visitar.
Para contar a sua história, temos de recuar no tempo, ao século XVI, quando começou a ser povoada. Mais recentemente, precisamente em 1930, generalizou-se a construção destas edificações, concluídas em 1975. É fácil elucidar alguns exemplos, o fontanário da Fonte de Lopo, o de S. João ou do caminho da Torre, o da Levadinha do Pico ou da Terra Velha, todos com elementos decorativos que nos transportam à vertente religiosa, muito vincada nas gentes desta terra.
A autarquia tem feito um esforço para conservar este pedacinho de identidade gaulesa, projetando a recuperação e a preservação destes fontanários, mas também sensibilizando as pessoas para a importância dos mesmos. Pela altura dos Santos Populares a Junta de Freguesia organiza uma atividade de enfeitar fontanários e mais recentemente, recuperou o fontanário da Achada de Cima, destruído há pouco mais de trinta anos e cujo azulejo, pintado à mão, destaca a padroeira, a Nossa Senhora da Graça.
Gaula é das freguesias onde a água constitui uma força motriz e onde se realça um vasto património cultural ligado a este recurso natural, em função disso, desde 2014, a Rota da Água constitui um trilho turístico, que incide na visita e passagem por fontanários, moinhos e lavadouros, estes últimos, também alvo de preservação e recuperação por parte da autarquia.  


domingo, 19 de abril de 2020

Força Câmara de Lobos

Que a situação que se vive em Câmara de Lobos não seja a rampa de lançamento para destilar ódios e insultos. Toda e qualquer forma de violência verbal, perante a fragilidade do momento, deve ser motivo de vergonha.
Percebo o sentimento de revolta que mergulha algumas mentes, muitos de nós estamos em casa desde que tudo isto começou, estamos longe das pessoas que gostamos, da nossa rotina e da vida a que estávamos habituados, revolta-nos que alguém não cumpra as normas de isolamento e deite a perder todo um trabalho que arduamente conseguimos, mas cada dia é uma luta contra o vírus.
O essencial desta questão não está onde surgiu este infeliz caso, mas na irresponsabilidade de quem ainda leva com leviandade este vírus e toda a realidade a ele associada. Há pessoas que ainda não entenderam que precisamos ser responsáveis por nós, porque só assim conseguiremos proteger os outros.
FIQUEM EM CASA! FIQUEM EM CASA! FIQUEM EM CASA!


Força Câmara de Lobos, voltaremos mais fortes!

A força de acreditar


2020 tem exigido de nós uma responsabilidade maior, mas acima de tudo uma aposta na serenidade e na resiliência. Por muito que não quisesse tocar no assunto, ele é demasiado importante para deixar passar em branco, o Coronavírus - COVID-19, a epidemia que nos coloca no lado mais frágil da balança precisa de ser combatido, essencialmente com a inteligência de cada um de nós, com o nosso civismo e com o respeito pelo próximo. Seguir à risca as recomendações da DGS (Direção Geral de Saúde) e dos planos de contingência das mais variadas entidades, é fundamental para que se ultrapasse este momento menos bom e se chegue juntos ao fim da jornada.

Não baixaremos os braços, é importante dizê-lo, mas cada um precisa fazer a parte que lhe cabe, isto é maior do que nós, envolve a ponderação e as decisões, que muitas vezes, ninguém quer tomar. A consciência da nossa fragilidade nunca foi tão forte, no entanto, seguimos numa rede de esperança, mas que essa esperança não vire o comum desleixo que o mal só acontece aos outros, será um tremendo erro. A China tombou, a Itália vergou, Espanha segue no mesmo molde e não queremos ser um espelho dos outros.

Nunca será demais lembrar que o nosso lar, é neste momento, o lugar mais seguro que se pode ter, para nós e para os outros. Nunca é demais também agradecer a todos os profissionais de saúde, que incansavelmente e colocando a sua própria integridade em causa, estão a combater este flagelo.
Enquanto houver alguém disposto a tornar a vida do próximo melhor, a humanidade estará a salvo, encontramo-nos para o mês que vem, certamente com melhores notícias, por enquanto, sejam felizes e serenos no conforto das vossas casas. 

Como diria o nosso Arlindo, está feito!

Perigosas teias


A relação conveniente entre algumas forças partidárias e alguns órgãos de comunicação social reflete a qualidade dos atores em palco, mas principalmente a podridão de um sistema viciado.

As notícias devem informar e esclarecer o cidadão com a verdade, mas na realidade, nesta terra bem perto de nós, está claro que os veículos de informação são incitados a espalhar notícias caluniosas, numa tentativa de denegrir a imagem de quem, claramente, está a incomodar os interesses instalados.
Por estes dias, não há Código Deontológico que lave a cara a algumas figuras jornalísticas, que tentam, já com claros contornos de desesperado, semear o caos.

Têm eles, no meu entender, mais com que se preocupar, como por exemplo, a forma pouco democrática e certamente meia turva, com que querem impor algumas pessoas na Casa da Democracia, isso sim, deveria ser capa de jornal.

O caminho faz-se caminhando, até porque a verdade não esgota nestes meandros, mas vejo com expetativa que há quem possa cair, na própria teia que teceu.

sábado, 18 de abril de 2020

Escolas que nos inspiram



A escola EB1/PE Dr. Clemente Tavares, em Gaula, tem feito um percurso notável ao longos dos últimos anos, não só notável em termos académicos, mas notável no envolvimento com a comunidade, na sua dedicação à modernidade, na diversidade de atividades, na capacidade de integração, mas também na criatividade que a acompanha. São essas atitudes, julgo eu, que fazem as crianças crescer, não só em tamanho, mas em sabedoria.

As atividades escolares que tenho visto a escola realizar englobam um bocadinho de tudo, desde festividades como o Carnaval, Natal ou Páscoa, passando pelas temáticas do ambiente, da segurança e é transversal aos assuntos pertinentes e atuais. Concursos como Baú da Leitura, Taça da Educação Rodoviária, Projeto Bandeira Verde e diversas visitas de estudo a pontos de interesse, são a receita que destaca esta escola. 

A escola EB1/PE Dr. Clemente Tavares tem vindo a obter resultados positivos e, muitas vezes, são agraciados e enaltecidos nas mais diversas esferas da sociedade civil. Agora, recentemente, a escola foi distinguida com um 1º prémio, a nível nacional, no concurso Conto Ilustrado Infantil, da 19ª Edição do Correntes d’Escritas/Porto Editora. Foi a primeira escola madeirense a ser premiada num concurso desta abrangência. Levaram o “Advento da Achada” a concurso e é algo que nos deve deixar a todos orgulhosos.

A escola deve ser isto, integradora, motivadora, capaz de envolver a comunidade educativa, mas acima de tudo fazer as crianças felizes na sua aprendizagem, como diria Nelson Mandela: “A educação é a arma mais poderosa que se pode usar para mudar o mundo.”

Faço votos que o percurso continue a ser de enorme sucesso e que se continue a pautar pela diferença, pela qualidade e pelo brio.



Refúgios



Há lugares que contam histórias verdadeiramente inspiradoras, recantos que viram crescer gerações e gerações de miúdos e graúdos, que ainda hoje se lembram dos lugares da sua infância.

A praia das Fontes, em Gaula, é um desses recantos, esculpida onde se encontram a terra e o mar, desfruta de uma paisagem a perder-se de vista, para o horizonte e para o aeroporto, no miradouro das Fontes, é possível ver com toda a nitidez a passagem e aterragem dos aviões que se fazem à pista. Nos tempos mais remotos, as grutas ali escavadas nas rochas serviram de armazém de pesca, onde eram guardados os utensílios da faina piscatória e onde a enseada era usada como ancoradouro de barcos.

Nos verões dos anos 70 e 80, a praia das Fontes era um ícone da freguesia e era frequente encontrar-se grupos de amigos a usufruir daquele lugar. Era uma altura em que se aproveitava mais a vida, que o digam os meus tios que cresceram com os amigos naquele lugar e que guardam boas memórias dele. Embora esquecida durante alguns anos, hoje tenta retomar a força de outrora, o encanto, esse não perdeu.

Pequena em tamanho, mas demasiado grande na sua riqueza natural, tem vindo a ganhar cada vez mais adeptos e nem a longa escadaria de acesso à praia, demove os que a visitam, dizem eles, que transmite paz. A água é límpida, o silêncio é apenas interrompido pelo som das gaivotas e pombos que fazem das escarpas o seu lar. A cascata de água, ativa durante todo o ano, envolve aquele lugar numa aura quase mística.

Ao longo do tempo têm sido feitas pequenas intervenções na praia, nomeadamente na limpeza e manutenção do espaço e da acessibilidade, um trabalho não só da autarquia, mas também dos privados.

A natureza e a civilização desfrutam ali de uma simbiose, a pegada humana fez a sua parte, mas deixou brilhar a natureza no palco principal, a queda de água e a nascente ali presentes são reveladoras disso mesmo, do respeito pelo genuíno, pelo belo e pela natureza. Continuaremos a proteger esta pérola gaulesa e esperamos cada vez mais visitas.


Festa da Amora e da Doçaria Tradicional em Gaula


Setembro é mês de festa na Freguesia de Gaula, é um mês de comemorar o mais genuíno que por aqui se faz. Na terra das amoras comemorou-se as gentes, a doçaria e a tradição, que são uma verdadeira inspiração.

A moldura humana que se formou de 5 a 8 de setembro naquele pequeno largo da Igreja da Nossa Senhora da, deixa-nos com a sensação de dever cumprido, com a certeza que aquilo que liga o povo gaulês, é muito maior, do que aquilo que o separa.

Gaula é retratada em muitas obras literárias como uma terra mítica, mas esta nossa Gaula, é de carne e osso, é feita de sonhos e de pessoas que nunca deixaram morrer as suas tradições. Tivemos uma reconstituição histórica, fados, folclore, concurso de doçaria tradicional, mas tivemos também tapeçaria feita à moda antiga, obras em madeira e a típica gastronomia, acima de tudo, tivemos pessoas presentes e dedicadas, que fizeram de mais uma edição da Festa da Amora e da Doçaria Tradicional, um estrondoso sucesso.

Não deixamos, ano após ano, de aproveitar esta festividade para homenagear figuras que se confundem com a história da nossa freguesia e que alavancaram projetos que foram capazes de transportar Gaula, além-fronteiras. Este ano, com muita alegria, homenageamos o professor Manuel Vieira, um homem profundamente ligado à cultura e à música na nossa terra e que é atualmente o dirigente da Tuna Amadis de Gaula.

Ao pisar o palco para a Sessão Solene do Dia da Freguesia, ganhamos noção da força que nos une, no adro, centenas de pessoas arrumavam-se em todos os cantinhos e aquela moldura humana deixou-me com o coração cheio, com a incrível sensação de chegar a casa e a essas pessoas, por todos os dias levarem Gaula mais longe, o meu muito obrigado.

Gaula é assim mesmo, com os olhos postos no futuro, com respeito pelos ensinamentos do passado, não se deixa governar, mas governa-se muito bem, valoriza o seu património, o seu genuíno, mas acima de tudo, as suas pessoas, sem elas, a história não faria sentido.



Parabéns Gaula, são 510 anos de um sonho que trilhamos juntos.  


terça-feira, 14 de abril de 2020

Rota das tradições


Gaula é uma terra de tradições e é nas tradições que reside a forma mais genuína de um povo, são linhas que contam, de forma indeclinável, quem fomos e quem sempre seremos. Fizemos da proximidade com os nossos, que tão bem nos caracteriza, uma ponte entre as pessoas e as nossas tradições, algo que é imprescindível manter para que não se percam nos labirintos do tempo, as essências de uma época culturalmente rica.

Há muito tempo atrás, debulhava-se trigo por estas bandas, aproveitando a força da água e a sua abundância, trabalhavam sem parar as pás dos moinhos que tentamos, hoje, preservar. São património que nos conta detalhadamente a faina do trigo que fazia parte do dia-a-dia das famílias, desde a sementeira do grão até a amassadura do pão, mas não só, esta freguesia é portadora de uma história inigualável.

Hoje, e na defesa intransigente da nossa identidade, fazemos questão de manter vivas as tradições que dão corpo à nossa freguesia, fomentamos as memórias organizando e inserindo-as em Reconstruções Históricas, durante todo o ano, abertas a todas as pessoas e onde todos podem participar. Temos o exemplo da reconstrução da vindima, realizada em setembro, a amassadura do pão, não esquecendo a Reconstituição Histórica de lavar roupa nos lavadouros, episódios que faziam parte dos tempos da “outra senhora” e que agora são reproduzidos, na integra, com o apoio das populações, são elas, as maiores mentoras destes projetos.

O contato direto com as pessoas, a valorização do património, material e imaterial, bandeiras deste executivo, têm destas coisas, a possibilidade de envolvimento de todas as partes na realização de projetos de cariz histórico, o que faz ser possível realizar atividades muito interessantes, não só fomenta a História, como também apruma as relações humanas, estreita as ligações entre nós, poder local, e as pessoas que, orgulhosamente, representamos e é este o caminho a seguir.

*Artigo publicado no Diário de Freguesias do Diário de Notícias da Madeira