sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

Os meios que não justificam os números

Continua a saga no setor da Saúde, hoje em manchete no Diário de Notícias somos brindados com as 16.500 pessoas que aguardam por uma cirurgia.

As desculpas começam a ser repetitivas, mas soluções, nem vê-las. Já passamos pela falta de pessoal, pela falta de equipamentos e por fim a falta de medicamentos. Fomos confrontados com fotografias que nos apertaram o coração e assistimos, pessoalmente, às condições deploráveis das infraestruturas hospitalares na nossa Região, para não falar, dos corredores apinhados de gente, que, com todo o respeito por essas pessoas, parecem campos de refugiados ou até mesmo, a deficiente rede de transportes de doentes, para não referir outros assuntos, de maior e menor gravidade.

Depois chegou a fase de sacudir a água do capote, culparam a oposição de ser um entrave, acusaram os órgãos de comunicação social de promover o alarmismo, por fim apontaram o dedo ao Governo Central, pela não construção do novo hospital, todos somos culpados, menos o Governo PSD. Já dizia o ditado, o macaco não vê o rabo que tem.

No meio de culpas e não culpas, as soluções tardam em chegar, as que são colocadas pelas bancadas da oposição são ironicamente chumbadas, quase parece que, afinal, não há problema nenhum na Saúde, mas infelizmente o parecer, quase nunca é ser. Assim vai a nossa política que, infelizmente, tem o poder de interferir com os direitos das populações.

A Saúde está doente, muito doente, vítima das negociatas e dos interesses políticos, vítima dos lóbis económicos, quase refém do privado e se isto é defender os interesses das pessoas, se isto é defender a democracia, se isto é elevar o nome da Região, então estamos condenados.


quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

Cães em restaurantes? A essência da questão


O ser humano é o ser vivo que mais se imita a si mesmo, segue modas e pensa que vive feliz assim. Agora está na moda humanizar os cães, uma total falta de respeito para com a essência do ser vivo em questão.

Gosto de cães, toda a vida os tive, quem me conhece, sabe tão bem o amor incondicional que lhes tenho e é exactamente por ter esse amor, que os respeito acima de tudo. Esta lei não é para conforto dos cães, e para o exibicionismo dos seus donos, donos esses que não percebem nada de psicologia canina. Um cão prefere correr para um campo, por trilhos e floresta a perder de vista do que ir um restaurante, aqueles sítios criados para HUMANOS!

Vivemos constantemente preocupados com o supérfluo, é mais importante decidir se os nossos cães entram num restaurante do que combater o crescente abandono, do que incentivar as esterilizações ou ajudar as associações de animais que tanto fazem, é mais importante decidir se o cão vai comer borrego ou coelho do que socializa-lo, do que passar um dia como a sua natureza o dita, do que desfrutar da sua companhia, do que deixá-lo ser cão.

Em vez de levarem o cão a jantar fora, levem-no a correr à beira mar, com o vento a bater-lhe no focinho, façam muitas caminhadas, trilhos no meio da natureza onde podem correr sem limites, durmam com eles ao pé da lareira, rebolem com eles pela erva fresca da manhã, vejam o nascer e o por do sol, atirem lhe uma bola vezes sem conta, deixem-no brincar com os da sua espécie, falem com eles, sejam presentes, coisas simples, mas com tanto valor para eles, porque estão a deixá-los serem cães

Vimes, o pulsar de quem somos



Ontem, por via do desfile de Carnaval na Camacha, dei comigo a passear pela fábrica de vimes do Café Relógio e a aperceber-me do quanto o grau civilizacional de uma região, passa, indiscutivelmente, pela forma como tratamos a História e a nossa identidade.

O artesanato dos vimes passa por uma apatia e declínio, fomentada pelo alheamento das camadas mais jovens e pelos sucessivos governos regionais que empurram a cultura, as artes e o artesanato para o fundo  de um orçamento com as prioridades muitos trocadas. Dispensam orçamento apenas quando isso é garantia de sucesso, sucesso económico, que como sempre, tem algum interesse político e no caminho, perde-se o rosto de quem somos, do mais antigo e sublime que nos define e o  respeito pela identidade de um passado, que urge preservar.

Há intenções de apoios, mas sempre haverá uma linha entre a intenção e a concretização de projetos, as coisas não se alimentam de palavras mas de ações, a falta o apoio à produção, a falta o apoio à promoção, a falta o apoio à formação, em suma, a falta um trabalho sério e responsável está a matar uma coisa única na nossa ilha.

Quem sabe, depois do trabalho de casa bem feito, não seremos capazes de chegar mais longe e a maiores formas de valorização do que, de mais nosso, se pode fazer.

Andreia Gouveia