sábado, 26 de maio de 2018



A questão da despenalização da eutanásia vai muito além de escolher um lado, é muito mais profundo que ir contra ou ser a favor da despenalização, é acima de tudo uma questão de rigor, da consciência que estamos a colocar em cima da mesa uma alteração que mudará para sempre o rosto de um país e não pode, de forma alguma, ser levada ao colo de interesses partidários, jogos de bastidores ou de acordos com parceiros e muito menos para cumprir agenda ou manifestos eleitorais. Impera o rigor e a responsabilidade de quem governa.
Coloquemos em destaque o que acontece na Bélgica, por exemplo, um dos primeiros países a despenalizar a eutanásia. Ao criar a lei, a Bélgica deixou um vazio legal e hoje, segundo dados do Observador, 13% das eutanásias praticadas não são em doentes terminais e além disso, foi alargada aos menores de idade e aos doentes do foro mental. Em 15 anos, a Bélgica deu permissão para que 15 mil pessoas colocassem termo à vida, um número que nos deve fazer pensar se é realmente este o caminho.

Em Portugal um outro indicador dá conta da posição dos profissionais da saúde, grande parte diz-se a favor da despenalização, mas em caso de aprovação recusam-se a praticá-la.
Há quem afirme que se fosse possível garantir a todos os doentes bons cuidados paliativos, a eutanásia não seria necessária, mas melhores cuidados podem não garantir que um paciente não sofra e muito menos que não queira morrer. A medicina paliativa não serve a todos os casos, nem a todos os tipos de sofrimento, pensemos igualmente nisso.
Façamos acima de tudo uma profunda introspecção, porque uma vez lançada a semente, o retrocesso será muito difícil.  É importante que seja feito um referendo, que a vontade soberana do povo se faça ouvir, naquele que é talvez, um dos temas mais sensíveis da nossa existência, o direito de acabar, a vontade de viver, o respeito pela dignidade, a vontade de continuar, desta vez não nos coloquemos no lugar do outro, mas no nosso próprio lugar, na certeza que estamos de passagem, que direitos vale a pena ter?
Andreia Gouveia

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